Desconforto

Eu queria escrever alguma coisa, mas não sei bem o que.

A merda é que eu não gosto de farsas. Não tenho medo da verdade. Prefiro jogar logo a verdade na cara dos outros e quem sobreviver que conviva comigo.

Mas não dá pra eu fazer isso com a vida dos outros.

Por isso ontem eu passei por uma situação da qual não gostei de participar. Menti quem eu sou, menti meu nome, menti o que eu fazia ali. E enquanto eu falava, desinibida, bem articulada, sorrindo, enquanto as palavras saiam da minha boca com profunda simpatia, eu por dentro me encolhia de desgosto. Mas como eu disse, não era um problema meu. Era a vida de outro. Eu não poderia fazer o que me desse na telha. Eu tinha que seguir o plano do outro. Por mais que eu preferisse a verdade.

Não gosto de mentir.

E não gosto por não saber mentir. Porque eu sei. Eu minto bem e sei disso. A questão é que eu escolhi não colocar essa minha habilidade em prática. Nem para poupar ninguém. Tenho pra mim que a verdade, por pior que seja é o melhor dos confortos. O conforto da pisar um chão firme.

E foi com muito desconforto que eu menti. Menti por alguém. Porque se fosse um problema meu em jogo eu tinha jogado a verdade na mesa. É assim que faço na minha vida, é assim que eu escolhi ser. E justamente por isso eu deixei claro hoje o que senti quando fiz aquilo ontem.

E novamente, mais desconforto.

Mas dessa vez não foi o meu desconforto por ter mentido, mas o desconforto do outro ao escutar da minha boca que tudo aquilo vai dar numa merda muito grande.

Pode crer que vai dar.